Com certeza, um cuidado que traz experiências gratificantes é a conversa. Poder falar de questões importantes / angustiantes com pessoas que confiamos fortalece.

Publicado em 9 de abril de 2020

O COVID-19 já infectou 1.413.415 pessoas no mundo. Desses, 289.389 se recuperaram e infelizmente tivemos 81.200 mortes. No Brasil, temos até o dia 08 de abril, 14.831 infectados, 127 casos de recuperação e 681 mortes.

Um contexto que nos deixa, no mínimo, atentos, não? Agora, uma pergunta para você: qual o principal cuidado você tem tomado, frente a esse contexto, para se fortalecer? Registre em um papel, por favor. Agora que já registrou, mais uma pergunta: o quão fortalecido você acredita estar, por conta desse cuidado? Pense em uma escala de 1 a 5, onde 1 é muito pouco fortalecido e 5 extremamente fortalecido.

Parece que precisamos mesmo de cuidados para nos fortalecemos frente a esse atual momento. Além de toda a questão fisiológica, alimentação, sono e exercícios, precisamos também nos fortalecer mentalmente. E para isso, é de fundamental importância compreender a origem desses fortalecimentos e como e quais cuidados são essenciais.

Medo e ansiedade

Melaine Klein, uma das mais importantes psicanalistas de todos os tempos, afirmou que “o medo da morte é a mais fundamental de todas as ansiedades”. E de onde vem esse medo gerador de todas as ansiedades, você deve estar se perguntado. Vem do nosso inconsciente. Mas esse medo foi parar lá sem mais, nem menos? Não.

Como você já passou por isso, sabe que nós, seres humanos, somos animais totalmente dependentes quando nascemos. Ou seja, precisamos de cuidados para nos alimentar, para nos mantermos limpos, cheirosos, etc. Isso porque até sairmos do útero de nossas mães, tínhamos cama, comida e roupa lavada. Zero preocupação. Agora, lembre-se: como foi traumático chegar neste mundo e perder toda essa mordomia e tranquilidade.

Chegar nesse mundo é um grande trauma! Respirar, mamar, fazer xixi e coco, tomar banho, tudo muito novo e as primeiras vezes até doloroso. Agora imagine a sensação de perigo que você sentiu quando qualquer uma das necessidades acima não eram satisfeitas. Isso porque sua mãe estava “ausente”. Você fantasiando que ainda você e ela eram um e se dando conta, pouco a pouco, que não. Que ela não estava disponível full time para satisfazer às suas necessidades.

Que essa mãe que te satisfazia com experiências gratificantes – leite quentinho, saboroso, nutritivo – também era a mesma mãe que te deixava “na mão”, com experiências traumáticas, por não estar presente nos momentos que queria e que necessitava.

O perigo real

São justamente essas experiências traumáticas que te deixava em estado de alerta e tensão, ou seja, que você estava em perigo. Um perigo real, que vinha de fora, pela “ausência”, mas que ao mesmo tempo se inscrevia dentro do seu aparelho psíquico, no inconsciente. Gerando um perigo dentro e com isso uma baita ansiedade. Que na psicanálise chamamos de persecutória. Aquela capaz de aniquilar a nós mesmos.

Importante entendermos a força que essa ansiedade possui e como ela pode agir no nosso dia a dia. Provavelmente você já presenciou um ataque histérico de uma pessoa, e normalmente vemos mais nas mulheres – sem nenhum preconceito nisso – que ao avistar uma barata perde a linha. Grita, se descabela, fica irreconhecível.

Pois é, a razão disso é que o perigo conhecido de fora – a barata – se liga com um perigo interno, que na psicanálise chamamos de perigo pulsional inconsciente ou desconhecido. Um perigo que se inscreveu no inconsciente, lá no tempo da infância. Assim, compreendemos o porquê dessa desproporcionalidade: um perigo conhecido, mas a ansiedade com relação a ele é excessiva e desconhecida.

E para lidar com ela, se faz necessária uma outra instância – nós mesmos, o ego – fortalecido e capaz de lutar, combater tanto os perigos de fora, quanto os de dentro, àqueles que nos perseguem e que podem nos aniquilar.

Experiências gratificantes de amor

É aqui que o cuidado entra em cena e com isso fortalece! Quando recebíamos e registrávamos as experiências gratificantes, fortalecíamos nós mesmos. Com isso, “sabíamos” que logo logo a mãe voltaria para cuidar das nossas necessidades. Klein, também afirmou que “repetidas experiências de amor suplantam o ódio”. Ou seja, criávamos a capacidade de integrar e sintetizar as forças antagônicas e assim nos sustentar e preservar a vida. Ficávamos, a cada experiência, capazes de suportar a mais profunda manifestação do inconsciente e assim recuperar uma estabilidade.

Ahhhhh…. Agora entendi , Otavio! Se essa ansiedade estará sempre presente comigo, o que preciso é fortalecer a mim mesmo, meu ego, com cuidado, ou seja, com experiências gratificantes – experiências de amor.

Bingo! Esse trabalho será constante, durante toda a nossa vida.

E que tal começar usufruindo esse pit stop que essa quarentena nos impôs? Que tal aceitar uma pausa nessa vida tão estressada que muitos de nós vivemos? E o que é o estresse se não uma reação do organismo que ocorre quando ele precisa lidar com situações que exijam dele um grande esforço emocional para serem superadas. Forças / perigos de fora, que se ligam com as de dentro e que nós mesmos temos que dar conta.

Que tipo de cuidado você precisa?

Segundo a ISMA (International Stress Management Association),  em um estudo publicado em 2019, 72% dos brasileiros economicamente ativos, sofrem alguma sequela ocasionada pelo estresse. São quase 57 milhões de pessoas! Muita gente, né? Some a isso, o perigo do COVID-19. Quantas delas precisam de cuidado para se fortalecer? Muitas! E você? Que tipo de cuidado você precisa para fortalecer? Será que o que você registrou no início dessa prosa é efetivo?

Com certeza, um cuidado que traz experiências gratificantes é a conversa. Poder falar de questões importantes / angustiantes com pessoas que confiamos fortalece. Principalmente quando temos nessa pessoa, uma “mãe” acolhedora, capaz de lidar com as ansiedades e nos “acalmar”. E isso conseguimos com bons ombros amigos. E caso não seja suficiente, porque não procurar um cuidado profissional?

Além disso, aproveite para fazer arte: escrever, desenhar, pintar, brincar, jogar, dançar, tocar e cantar. Fazer arte é uma forma de expressarmos, colocarmos para fora, as reflexões, os sentimentos, desejos e angústias.

Precisamos de cuidados para nos fortalecer! Tanto os nossos, quanto os de nossas “mães”.

Espero que o cuidado que você registrou, logo no início dessa prosa seja um desses. Se não, repense e se proponha algum deles.

Pois… O cuidado fortalece!

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